sexta-feira, 4 de março de 2011

O ato de “desrracionalizar”



Quando nos submetemos a racionalizar o tudo, nos deparamos com indagações simples que nos geram certa insegurança ao tentar respondê-las. Um dia desses, aconteceu comigo. Perguntaram-me sobre o amor. No momento achei aquele emissor o mais ridículo dos seres. O que ele queria com tal interpelação? Poderia, eu, declamar Camões, Pessoa, Drummond, Cecília ou quem sabe cantarolar Buarque, Veloso, Marisa Monte, Renato Russo. Ainda poderia buscar inspiração em Jane Austen para versar sobre o amor na ótica feminina inglesa. Contudo, meus olhos fixos estavam e engano seu pensar que eu avistava o rosto curioso, eu via as lágrimas que concretizaram a descrença, vi o adeus aceito sem interrupção, vi o amor partindo sem ao menos me olhar. Não pense que não o quis encontrá-lo novamente, confesso, eu o procurei. Ele vagueava insano por desertos, sua loucura o fez surdo, gritei, não me ouvia. Quando pensei, enfim a sós, a amnésia impediu que me reconhecesse. Em vão meu percurso foi. Via pássaros a cantar, as pessoas passavam por mim, rancor, só passavam. Olhei em olhos e nada via, engendrei belos versos a fim de respostas que não vinham, consumi corpos validados apenas por uma noite ou fragmento do dia. E agora, eu que não deixavam uma questão sem resposta sustentada por teorias modernas e plausíveis. Eu que era vista como a razão de saia, óculos e um belo corpo a desfilar. Ah... neste exato segundo meus olhos contemplavam o rosto ansioso. Minhas pernas perdiam sua sustentação, sentia, ou melhor, não sentia o suor gélido que escorria da minha face. Quis fugir, porque não morrer ali? Poético seria, iriam dizer que a emoção de responder aquele questionamento me causou um colapso, não por temor, mas por achá-lo supremo e como dizem por aí não ter palavras para defini-lo. Fugir ou morrer seriam saídas, entretanto, estas não estavam disponíveis nesta situação. Então, olhei-o e disse em tom suave-impactante: Não vou te falar do amor que li em livros ou escutei em honradas canções. Falarei do sentimento que me causou insônias após discussões sem uma solução, insegurança por me reduzir e elevar que eu amava, medo ao crer que não suportaria uma semana sem olhar tais olhos e pronunciar “eu te amo”. Amor que você sente estando perto ou longe, carrega-o como fardo anos e não se cansa, chora, sorri, mata-o para em seguida ressuscitá-lo. É ele que derruba preconceitos, orgulhos e te faz ser humano, guia-te a ambientes indescritíveis ao acionar beijos, carícias, corpos, desejos, suor e muito prazer. O conheci, com medo pedi que partisse e sem solicitar explicações para minha atitude, ele seguiu. Mais tarde o reencontrei, ele não quis saber das minhas razões, não ouvia. Insistente o segui, mas ele me olhava indiferente, aquilo corroia o que me mantinha viva, até amenizarem minha dor ao me consolarem que a indiferença era conseqüência da amnésia. Se eu não perguntei o porquê eu afugentei o amor? Aos prantos, enlouquecida, me questionava e isso faço até hoje, por quê?

Em sonhos dormindo ou acordada me vejo com ele, a felicidade paira em meu semblante e me faz tão bem. Mas ele, o amor, não é o mesmo. “Antes tocava a alma, agora a transpassa para entregar um convite”.

Lembro que as palavras deste dia ecoaram por muitos anos, disseram-me que nunca falei tão bem de normas gramaticais quanto do amor.

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