domingo, 19 de setembro de 2010

Rotina


O alarme soa

Levanta

Já é dia: banheiro, cozinha, rua

Já é tarde: rua, casa, rua

Já é noite: rua, casa, cama

E não tem fim: Sísifo...

Exílio

Assim me sinto hoje, escrava de um sistema que não permite minha ida

Trancafiaram-me no que denotam ser uma cidade

E eu a caracterizo por Nerruda “morrer lentamente”



Hoje entendo bem os versos de Metal contra as nuvens

“Tenho os sentidos já dormentes, o corpo quer e a alma entende”

Neste lugar não tenho sonhos, não existo, perdi minha identidade



Tentei fugir, mas a sociedade me aprisionou ao brandir:

- A fuga é recurso dos fracos!

Fraca? Indaguei-me.



Jamais serei, a resposta ecoava em minha mente

Percorria meu sangue

Mas é o que sou, cedi aos caprichos do que eu maldigo



Mário Quintana já dizia

Analfabeto é o que sabe ler e não lê

Ah, não li...



Até a pouco nem essas linhas conseguiam percorrer meus anseios

Agora já escrevo e li

Agora vou prolongar o meu exílio, não me conformando com as migalhas oferecidas

Contudo, planejando o meu triunfo, a volta, a ressurreição.



Tais leis

A Lei universal: um amor
Nós, seres humanos nos desdobramos por essa ânsia
Como ela nos manipula
Trai-nos, “platonisfica”-nos e oferece-nos a punição
Amar o quem já não amamos,
Abusar do escapismo para sermos os escritores da nossa própria vida
E quando o relógio soa, abrem-se as cortinas
É dia, é real
Mas um dia juraremos amores vãos
Procuraremos preencher vazios
Sofreremos por sermos tão superficiais em nosso ciclo relacional
Mas como é um ciclo, continue
Ah, quem sabe se nos desconstruíssemos, como propôs Derrida para compreender as artes
Quem sabe se amar fosse mais que conveniências, padrões, horas marcadas...
Talvez o equívoco seja a tal Lei universal, antes ser humano do que ser boneco da ânsia.